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O Homem Anônimo

CAPÍTULO UM

Nuvens negras vindas do Paraguai começaram a avançar, no início silenciosas, depois vieram raios e trovões e desabou a chover copiosamente. No meio do temporal um fusca conversível vermelho cortava a cortina d’agua com eficiência e valentia. Era madrugada e a escuridão intensa só cedia lugar a relâmpagos periódicos e a raios avassaladores que caiam ao longe.

Carlos Alberto dirigia solitário e com muita cautela através da chuva constante. Com vinte e oito anos e de estatura mediana, tinha os cabelos castanhos curtos e um físico invejável que conseguira no treinamento de caratê, arte marcial que dominava há muitos anos. Começava a achar que não fora uma boa ideia pegar estrada com o tempo se armando desde o escurecer.

Vinha de Foz do Iguaçu, onde fora despedir-se do amigo Élber e sua recente esposa. Haviam embarcado para São Paulo e de lá para a Europa, em lua de mel, na viagem de seus sonhos. A alegria deles era tanta que contagiava quem estava por perto, era um momento único de suas vidas e não escondiam de ninguém.

Não gostava de dirigir com chuva, ainda mais a noite, onde a visão era muito reduzida. Mas como precisava chegar à Cascavel, cidade que morava e trabalhava de piloto de um taxi aéreo, precisava seguir viagem. O avião que ele pilotava tinha apresentado problemas mecânicos e ele queria acompanhar o reparo. A tarde tinha uma última viagem marcada para o Mato Grosso, antes de tirar alguns dias de merecidas férias. Esforçava-se em manter-se na pista, ainda que contra sua vontade.

Estava concentrado na estrada quando percebeu um vulto cruzar na frente de um relâmpago e um objeto cair sobre a pista logo a sua frente, ricochetear e deslizar indo parar no acostamento.        

Por instinto deu uma guinada no volante do fusca, desviando milimétricamente e perdendo a direção do veículo. Caiu fora da pista de rolamento, capotou diversas vezes no barranco que margeava a estrada e bateu violentamente em uma árvore. Foi salvo pelo cinto de segurança do automóvel e pelo fato de estar dirigindo em baixa velocidade. Saiu do carro atordoado, o susto tinha sido terrível, mas, felizmente, estava inteiro. Não se podia dizer o mesmo de seu fusca conversível, o qual era tratado como se fosse um membro da família.

Aquele carro com chassi de 1970 havia pertencido ao seu avô, já falecido, e não passava de uma sucata quando recebeu de herança. Não tivera dúvidas quanto ao que fazer com ele e, depois de investir mais dinheiro do que teria gasto para comprar um carro novo, finalmente conseguira transformar aquele ferro-velho em um cobiçado conversível “novinho em folha”.

Carlos Alberto estava encharcado até os ossos quando, munido com uma lanterna de led que pegou no porta-luvas do carro, voltou até a rodovia para ver o que tinha provocado o acidente. Pensou ter se enganado. No entanto, ele vira certo, o estranho objeto que jazia no asfalto só podia mesmo ser uma nave alienígena. Tinha uma forma arredondada com alguma semelhança com uma arraia gigante e negra, com luzes azuladas piscando em sua fuselagem.

Ele ficou fascinado observando aquele “troço” vindo de algum filme de ficção científica quando, pra seu espanto, saiu um “ser estranho” de dentro. Cambaleou e caiu do lado de fora, visivelmente ferido. Sob o olhar incrédulo do rapaz a criatura se levantou, num esforço tremendo, e caminhou trôpego, em direção a ele, que ficou por um momento, sem ação. 

Sem tempo para pensar, o rapaz correu até o ferido e arrastou-o para longe da nave, que explodiu logo depois. Ninguém acreditaria se contasse. A verdade é que Carlos Alberto não podia imaginar que aquele ato impensado, movido pela necessidade de ajudar o próximo em perigo, algo tão comum à maioria dos seres humanos, mudaria sua vida nos próximos dias para sempre. Não podia saber que aquilo era só a ponta de um iceberg gigantesco vindo à tona.

A chuva continuava ininterrupta. A escuridão só não era maior por causa dos relâmpagos que iluminavam o céu a todo instante.

Carlos Alberto viu, a uns cem metros dali, um barracão velho ao lado de um milharal verde. Erguendo o estranho jogou-o nas costas e, com muita dificuldade, levou-o até lá. A construção se encontrava em péssimas condições e tinha muitas goteiras, mas ainda assim era melhor que do lado fora. Chegando lá, com a ajuda da lanterna que trazia, conseguiu ver que tinha alguns fardos secos de feno ali perto. Rapidamente desfiou-os, fez um montinho e acendeu-os com um isqueiro que tinha embutido na parte de trás do cabo da pequena lanterna, uma das novidades que se encontra nas lojas de vendedores ambulantes do Paraguai. O recinto iluminou-se com aquela luz bruxuleante e fraca. Foi o suficiente para ele dar uma olhada ao redor e ver que, além dos fardos de feno, tinham também ferramentas de trabalho rural e um carrinho de mão enferrujado em um canto.

— Amigo… — balbuciou o estranho num português quase perfeito com a voz fraca, quase inaudível. — Precisamos sair daqui! Inimigos me perseguem. Vão chegar a qualquer momento. Posso sentir a aproximação deles. São extremamente perigosos.

O estalido de estática fez Carlos Alberto perceber que a voz saia por um aparelho tradutor, preso logo acima do cotovelo do ET.

Carlos Alberto ficou olhando para o extraterrestre sob a luz da fogueira improvisada. Parecia um ser humano quase normal, a semelhança era grande, o alienígena diferenciava em muito pouco de um humano. Sua pele era verde, mas em um tom bem fraquinho. Sua mão também era praticamente igual, não fosse pelo fato de ter contado seis dedos em cada uma delas. O rosto tinha dois olhos redondos, um nariz pequeno e a cabeça era calva com formato normal de qualquer ser humano. Tinha estatura média, e era um jovem ainda, nos padrões humanos. Usava uma espécie de uniforme de super-herói na cor verde ardósia com alguns detalhes em branco e, em cada punho, um bracelete metálico parecido com uma arma.

— Vamos amigo — falou o ET novamente. — Inimigos muito poderosos, eles rastrearam minha nave. Estão chegando.

Carlos Alberto sentou-se ao lado daquele ser moribundo, não sabia se falava a verdade ou se simplesmente delirava. Talvez fosse delírio devido ao ferimento que parecia ser grave. Por outro lado, o fato de o objeto ter caído, podia ter mesmo explicação num ataque, nas circunstâncias do momento não duvidava de nada.

— Temos que ir embora, amigo, ou morreremos. Ouça o que lhe digo, vamos sair daqui, meus inimigos se aproximam.

Sua dúvida durou pouco, para confirmar o que o ET dizia uma luz forte num tom avermelhado jorrou do alto sobre o barracão. Era uma luz diferente das produzidas pela natureza. Era uma claridade direcionada, movida por mãos humanas ou alienígenas. Carlos Alberto ficou de pé observando a estranha luz que iluminava como se estivesse procurando alguma coisa. Preocupado ele pisoteou a fogueira apagando-a e ficou de prontidão.

* * *

O temporal não interferia na procura. A nave, com um sinistro formato de uma “cabeça de lagarto achatada”, fazia jorrar uma potente luz avermelhada iluminando tudo ao redor. Até poucos instantes, o piloto-alienígena seguia o inimigo através de um transmissor escondido. Agora, depois de atingir a nave inimiga, ele parou de transmitir. Precisava ter certeza de que o inimigo estava eliminado, o chefe era exigente.

Lentamente a horrenda nave vasculhou por tudo até que localizou os destroços da nave atingida. Estava satisfeito com o resultado quando avistou um brilho tênue perto dali. Talvez o piloto tivesse sobrevivido, conhecia o inimigo muito bem e sabia de suas habilidades. Era difícil de liquidar.

A nave então rumou para lá. Era um barracão velho que mal se aguentava em pé. O piloto, que tinha a “cabeça de lagarto”, escondido na penumbra, deu um sorriso maldoso vendo a silhueta no monitor do radar de infravermelho. Eram dois que estavam encurralados dentro do barracão, presos numa armadilha. Mesmo não conseguindo identificar suas fisionomias sabia que um deles era o soldado de Iruama.

Sários, seu chefe, queria todos mortos a qualquer preço. Disso dependia o sucesso de uma nova vida para todos eles nesse novo planeta. Com um comando mental ele acionou o raio da morte e viu o barracão explodir em chamas, causando grande luminosidade na noite escura e chuvosa.

* * *

Sentindo o perigo pairar no ar, Carlos Alberto rapidamente jogou o ET moribundo em cima do carrinho-de-mão que permanecia ali perto e, com um golpe de Caratê, abriu um rombo na parede da madeira apodrecida nos fundos. Então saiu correndo pelo meio do milharal. Uma rápida olhadela para trás e viu simplesmente o esconderijo desaparecer numa explosão e uma língua de fogo lambeu seu calcanhar. Com mais energia ainda, ele também desapareceu no milharal, tudo o que ele queria era distância daqueles seres medonhos. Seu dia tinha sido tão tranquilo e alegre que jamais poderia imaginar que terminaria assim. Com seu carro destruído, fugindo de perigosos assassinos intergalácticos com um extraterrestre num carrinho de pedreiro, no meio da roça, no escuro e debaixo de uma garoa fria.

Carlos Alberto correu tanto que suas pernas bambearam e teve que parar. Estava ofegante. Enquanto recuperava o fôlego pôde ver por sobre as folhas pequenas luzes piscando, não muito longe dali. Era a nave alienígena que pairava no ar sem pressa de ir embora, foi com grande pesar que constatou isso.

Sem destino, Carlos Alberto caminhou mais um pouco empurrando o carrinho com o alienígena, até que avistou um frondoso pé de abacateiro no meio do milharal. O dono daquela roça deve ter ficado com pena de arrancar aquela árvore, que era mesmo imensa, plantando em torno dela o milharal.

Ele colocou o ET sentado e encostado no tronco. Depois também se sentou do seu lado. A chuva tinha parado, as nuvens ralearam e a Lua cheia apareceu entre elas. O que ajudou a clarear um pouco. Ficaram em silêncio por alguns instantes até que o alienígena falou com aquela voz estranha. Parecia muito satisfeito com o desenrolar dos acontecimentos.

— Obrigado amigo, por tentar salvar esse ser, é muito gratificante contar com ajuda quando a gente precisa.

Carlos Alberto deu um sorriso, tirando a camisa e torcendo-a.

— Você não parece nada bem — observou. — Há algo mais que eu possa fazer?

— Estou com hemorragia interna — disse o alienígena se ajeitando melhor em seu encosto improvisado. — Não vou aguentar por muito tempo mais. — Um líquido vermelho escorreu pelo canto de sua boca. — Infelizmente seu esforço foi em vão. Mas quero que saiba que foi um prazer conhecê-lo. Ele estendeu a mão trêmula. — Meu nome é Arikt.

— O prazer é todo meu, amigo — disse Carlos Alberto apertando fortemente a mão estendida, se apresentando também. — Pena que seja nessa circunstância.

O ET sorriu tristemente.

— A vida é assim. — Mais uma golfada de sangue desceu pelo seu queixo. — Temo que ao me ajudar você tenha se tornado um alvo também. Em breve os malditos Sgols vão nos encontrar e você, desarmado, não terá a mínima chance contra eles.

Carlos Alberto não tinha a menor dúvida disso.

— No entanto… — Arikt se esforçava para conseguir falar, sentia suas forças se esvaindo rapidamente.

— Melhor não se esforçar, cara — pediu Carlos Alberto, consternado, sem saber o que fazer.

Arikt balançou a cabeça negativamente.

— Esse traje que estou usando —, continuou ele tossindo, — é muito mais que uma vestimenta. É uma arma de uso da força armada de meu país e não pode cair nas mãos do inimigo. — Ele deu um sorriso amarelo. — Meu chefe Iruama vai querer me matar quando souber, mas contrariando as ordens de destruir o traje num caso como esse, vou doá-lo a você. Assim poderá se salvar e, quem, sabe destruir meu inimigo.

“Está delirando” pensou Carlos Alberto, queria pedir ajuda ao resgate, mas não tinha ideia de onde seu celular fora parar com a confusão.

— O traje — continuou Arikt fechando os olhos; era visível o esforço que fazia — responde ao comando mental específico do soldado que o possui. Tem um código que somente o capitão pode acessá-lo além do seu dono.

Carlos Alberto ouvia mas não compreendia claramente onde o alienígena queria chegar. As coisas, que já estavam esquisitas, tomavam um rumo ainda mais estranho. Era evidente que o ser não se encontrava na sua melhor condição mental.

— Não sei se um humano conseguirá dominá-lo, é algo que nunca foi feito antes — Arikt fez silêncio, tentava controlar a respiração que estava cada vez mais compassada. — Porém você é a pessoa ideal para tentar. É um herói nato e fará bom uso do traje que estou liberando agora. Tudo que terá que fazer é chamá-lo para si mentalmente e ele obedecerá. — Tossiu uma última vez e parou de respirar.

Carlos Alberto estava emocionado vendo o ET indo embora sem nada poder fazer. Gostaria de ter ajudado mais e, quem sabe, conhecê-lo melhor. Parecia ser uma boa pessoa.

Um zumbido pouco distante chegou aos seus ouvidos e ele olhou para o céu. Luzes piscando, acompanhadas de um potente facho de uma luz avermelhada, se aproximavam lentamente daquele local. Não ia demorar muito para encontrá-lo, precisava tomar uma decisão, imediatamente. Fugir parecia ser o mais sensato no momento. Agora, sozinho, tinha uma pequena chance de desaparecer sem ser notado.

De repente, sob seu olhar incrédulo, o traje de Arikt se dissolveu em minúsculas esferas esverdeadas que se agruparam em uma bola a meio metro do chão, deixando o alienígena somente com um agasalho branco que usava por baixo.

Carlos Alberto olhou para aquela bola composta por milhares de células flutuando a sua frente e resolveu tentar. Se não desse certo não ia perder nada e não tinha ninguém olhando para chamá-lo de louco.

Fechou os olhos, limpou a mente, chamou o traje para si, e ele veio. Como se fosse uma revoada de abelhas, as células o envolveram, uniram-se e se ajustaram a seu corpo, se transformando no traje novamente. Por último as armas de pulso se prenderam em seu antebraço com um clique.

Por alguns segundos ele ficou confuso. Então começou a entender como funcionava o traje que se ligou a ele mentalmente, como se fizesse parte dele. Sentiu uma estranha sensação de força e poder como nunca sentira antes. Era algo surpreendente, sentia-se como se fosse outra pessoa ou alguém que não sabia que era. A sensação era indescritível.

A nave se aproximou e seu facho reluziu sobre Carlos Alberto, que saiu correndo enquanto a máscara se fechava em torno de seu rosto. Preferia que o inimigo, quem quer que fosse, não soubesse que o perseguido agora era outro.

Uma saraivada de raios mortais destruiu os pés de milho ao seu redor enquanto ele corria por sua vida. 

* * *

O cara de lagarto soltou um sibilo, arremedo sinistro de uma gargalhada, ao ver o alvo em chamas. Viu, no entanto, no seu radar, o odioso inimigo fugindo. Continuava o fato de que ele ainda estava vivo e fugindo com seu comparsa. O maldito era difícil de matar e tinha uma sorte dos infernos em encontrar alguém disposto a ajudá-lo naquele planeta desconhecido. Entretanto, podia fugir o quanto quisesse que seu fim se aproximava. Estava lidando com um profissional e não ia conseguir escapar dessa vez. Ainda mais sem sua nave e a pé. Encontrava-se ferido, pois seu radar acusava uma pessoa carregando outra em um rústico carro de uma roda só.        

Partia no encalço do inimigo quando, alguma coisa vindo da explosão, atingiu-o, fazendo com que perdesse o controle da nave por alguns instantes. “Maldição”, pensou, “por que não estou com o escudo ligado?” Notou que, com isso, os fugitivos haviam desaparecido do radar. Como mágicos eles, com certeza, não eram, isso só podia significar que o aparelho tinha pifado de novo. Não estava surpreso, não era a primeira vez que isso acontecia. Aquela nave que um dia tinha sido de ponta, já não era mais a mesma. Agora não passava de uma sucata pronta para o desmanche. Mas na falta de outra…

Com um sorriso nada bonito, o piloto partiu lentamente em sua caçada. Não tinha pressa. Ia saborear a eminente vitória como um enólogo saboreia um bom vinho.

* * *

Carlos Alberto corria em ziguezague tentando não ser atingido quando, inesperadamente, o milharal acabou e ele caiu num barranco. Girou o corpo e caiu de pé como se fosse um gato e entrou num bosque que iniciava a partir dali. Ele estava espantado que aquela chuva de raios não o tivesse acertado. Parecia até que não tinham a intenção de matá-lo, apenas de assustar. Se era isso que eles queriam, tinham conseguido. Estava apavorado. A sorte é que seu condicionamento físico era excelente. Ser um faixa preta de Caratê tinha lá suas vantagens. E o traje tinha alguma força que o tornava mais leve e mais ágil, como nunca se sentira em toda a sua vida de atleta.

* * *

A nave sobrevoava lentamente o bosque a procura do inimigo.

“O miserável sumiu de novo”. Pensou o “cara de lagarto”, espantado com o fôlego do inimigo. Fazia muito pouco tempo que parecia estar mal e agora corria como um velocista campeão. Pensava que alguma coisa estava errada. Nem mesmo se tivesse um fator de cura seria assim tão eficiente. No entanto, fosse como fosse, gostava de brincar de caça à raposa. Mais cedo ou mais tarde ele venceria a partida, isso era um fato incontestável. É verdade que sem radar e com o escudo da nave falhando as coisas se tornavam um pouco mais difíceis, mas tudo bem, ele tinha tempo. Os outros soldados estavam longe naquele momento e quando aparecessem ia ser só para recolher seus restos mortais

* * *

Carlos Alberto subiu em uma árvore e, escondido entre as folhas, esperava a oportunidade do ataque. A ideia era fugir do inimigo mas, se conseguisse contra-atacar, seria melhor e mais seguro do que ficar servindo de alvo para aquela nave alienígena sedenta de sangue. Do seu sangue.

As nuvens carregadas haviam encoberto a lua novamente, mas isso não era problema. O traje tinha uma eficiente visão noturna que facilitava sua vida e o deixava em condição de ter chance de vencer. Podia ser que estivesse sonhando alto demais, mas não podia ser diferente com aquela “arma” que usava.

A nave o localizou novamente e o facho de luz iluminou a árvore em que estava, cegando-o momentaneamente. Não vacilou, apontou seus braços com as armas de punho e disparou simultaneamente. Os dois raios em forma de meia-lua, partiram e se juntaram no percurso, formando uma bola de pura energia que atingiu a nave em cheio, provocando um curto circuito nos comandos. Ela desestabilizou e adernou para a esquerda perigosamente.

Enquanto ela girava sem controle, Carlos Alberto pode ver a fisionomia do piloto. Tinha focinho e uma grande bocarra, num rosto escamoso de réptil. Se parecia com um lagarto gigante.

Com um estrondo pavoroso a nave tocou o solo e, girando como um pião, foi quebrando a vegetação do bosque até parar em um tronco de árvore. Carlos Alberto custava a acreditar que havia conseguido. Não tinha certeza de que tudo não passava de um sonho. As coisas estavam acontecendo rápido demais até para ele que tinha a mente aberta para coisas fora do comum.

Saltou da árvore e, como esperava, o traje amorteceu o impacto com eficiência. Aproximou-se da nave para vê-la mais de perto e certificar-se de que o Sgol não sobrevivera à queda. Com a atenção voltada para a nave semienterrada no bosque, não percebeu que já não se encontrava mais sozinho. Só se deu conta quando uma mão de seis dedos pousou em seu ombro e ele sentiu uma leve descarga elétrica. Perdeu os sentidos.

Atrás deles uma nave negra flutuava silenciosa, a meio metro do chão.

— É um humano, Iruama — disse uma voz num idioma desconhecido quando a máscara do traje se abriu, obedecendo ao comando do ET.

— É… — resmungou o outro tão surpreso quanto o primeiro.

— Mas como pode estar usando o traje de Arikt? E como conseguiu dominá-lo?

— É uma incógnita — exclamou Iruama. — Mas para ele ter acesso ao traje com certeza Arikt permitiu.

— Obediência nunca foi o forte dele — comentou o soldado. — Gostava de questionar as regras, deu no que deu. Ele devia ter nos esperado.

Iruama ficou meditativo por um longo tempo. Não costumava acreditar em destino, porém estava impressionado com a capacidade do terráqueo. Nem mesmo seus melhores soldados conseguiram dominar a vestimenta com tanta facilidade no primeiro dia.

— Vai pegar o traje de volta? — perguntou o soldado.

Iruama balançou a cabeça discordando.

— Precisaremos de ajuda terrestre em nossa empreitada. Parece que encontramos a pessoa certa para substituir Arikt. Já que chegamos nesse ponto vamos dar-lhe um voto de confiança. Ele mereceu. — Iruama apontou para a nave enterrada no mato. — Quanto tempo você levou para derrubar a primeira dessas?

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