Logo Site Escritor Amauri Marcondes 2023

NO TEMPO QUE O REI JOGAVA

CAPITULO UM

No meio da manhã, um Ford Focus preto dobrou a esquina e seguiu vagarosamente pela rua sem movimento da pequena cidade. Parou cinco quadras depois, em frente a uma casinha de alvenaria com telhado encardido e pintura velha, descascando. Dava para ver aqui e ali manchas de tinta verde limão desbotado. A casa carecia com urgência de uma boa reforma na sua fachada.

O motorista, usando terno, gravata e óculos escuros, como chofer de filmes de nível, desceu e abriu a porta de trás do veículo. Desceu um senhor, alto e magro, de cerca de sessenta anos, usando terno e gravata de grife, que seguiu até o portão social da casa. O motorista correu à frente e, ao verificar que o portão enferrujado estava trancado, deu-lhe um safanão fazendo-o se abrir com um rangido, cedendo passagem para o homem velho, que entrou por ele com ar de superioridade. Ainda à frente, o motorista bateu à porta e esperou. Instantes depois, a porta se abriu, revelando uma mulher de meia idade, a qual arregalou os olhos de surpresa.

— Achou que nunca mais me veria de novo, Maria? — perguntou o velho abrindo passagem pela mulher e entrando na casa. — Preferiu levar uma vida de pobre a viver comigo na riqueza.

O homem olhava ao redor da pequena sala, que tinha aspecto singelo e pobre. Um grande sofá cor cinza surrado tomava duas paredes e uma tevê de tubo de vinte e nove polegadas ficava na parede oposta sobre uma estante velha e torta.

— Preferiu isso —, mostrou o velho ao redor com as mãos, — a viver no luxo que eu podia lhe dar.

Maria tremia de medo. O pavor que sentia aflorou nas lágrimas que desciam pelo seu rosto.

— O que ainda quer de mim, Rômulo? — perguntou ela ouvindo a chaleira com água fervente chiar na cozinha. — Sou pobre, mas sou feliz assim. Nunca precisei de muito para viver. Mas você sabe disso, não é mesmo?

Rômulo se aproximou dela e, com um lenço que tirou do bolso de seu paletó, secou carinhosamente suas lágrimas.

— Como me encontrou depois de tanto tempo? — pediu ela um pouco mais calma, dirigindo-se para a cozinha, onde preparava o almoço. Ele a seguiu e ficou observando-a desligar o fogo de todas as panelas. 

— Com a ajuda da tecnologia é bastante fácil encontrar pessoas hoje em dia. Mesmo que demore. Mesmo alguém que não queira ser encontrado.

Ela o encarou com olhos assustados. Não se sentia bem com a presença do homem.

— Agora que me achou o que pretende fazer? — sua voz saía trêmula. No umbral da porta, entre a sala e a cozinha, o motorista acompanhava toda a conversa.

— O que acha que devo fazer? — pediu o homem encarando-a com seu modo dominador. Divertia-se com o horror estampado na face dela.

— Acho que devia ir embora e me deixar em paz. Seguir sua vida e deixar que eu siga a minha — disse ela ingenuamente.

Rômulo sorriu.

— Há dezesseis anos que te procuro e agora quer que eu deixe tudo por isso mesmo? — ele se aproximou e passou a mão em seu rosto. — Acho que não vai dar, querida. Sabe que meu “modus operandis” não é assim. Se meus inimigos soubessem que eu simplesmente deixei para lá tudo que me fez, não ficaria bem para mim. — Ele balançou a cabeça corroborando com o que dizia.

— Tudo o que eu te fiz? — redarguiu a mulher estupefata. — Não inverta a ordem das coisas, sr. R. Se saí de sua vida com uma mão na frente e outra atrás, se fugi como o diabo da cruz, se passei fome e frio para me manter o mais longe de você, foi para manter minha integridade física. Esqueceu de suas atitudes violentas?

Como resposta, sem demonstrar a intenção, ele deu um tabefe na face esquerda dela, jogando-a no chão com um urro de dor.

Ele agachou-se, pegou-a pelos braços e levantou-a novamente. Seus lábios sangravam.

— Mesmo depois de tanto tempo, mesmo com medo de apanhar, você não mudou nada. Não é, Maria? Faz cinco minutos que nos encontramos e já está me tirando do sério

Ela se mantinha de cabeça baixa, olhando para o chão. Conhecia aquele homem bem demais para esperar o pior. Ele não sossegaria até maltratá-la, humilhá-la e fazê-la sofrer por todos os anos que conseguira se manter longe.

— Vou te perguntar novamente, querida. — O velho lhe acariciava o cabelo. — O que acha que devo fazer com você?

Capítulo 02

Pouco antes de meio dia Léo e Luciana chegaram da escola na maior animação, como sempre faziam. Era sexta-feira e, portanto, o último dia de aula da semana.

— Mãe, “tô” com fome — gritou Luciana ao entrar pela porta da sala sem ao menos tirar o tênis, coisa que a mãe reclamava sempre.

— O que tem para o almoço? — perguntou Léo indo em direção à cozinha, deixando a mochila da escola pelo meio da casa. A mãe se irritava com a falta de organização dos filhos, mas eles pareciam não se importar com isso.

Léo, um adolescente de quinze anos era muito inteligente e na maioria das vezes tirava notas boas, motivo de orgulho para sua mãe que não perdia a oportunidade de elogiá-lo.

Luciana, embora não fosse muito boa em matemática, com treze anos, seguia os passos do irmão em inteligência e desorganização.

Sempre rindo e falando alto, os dois chegaram juntos à porta que dava acesso à cozinha e pararam assustados.

A mãe estava desfalecida no piso da cozinha com um pano de prato sobre o rosto.

— Mãe! — choramingou Luciana apavorada.

Nervoso, Léo se ajoelhou ao lado da mãe e tentou verificar o pulso dela, mas não conseguia sentir nada.

— Chame os paramédicos, Léo — gritou Luciana desesperada. Resolveu puxar o pano de cima do rosto da mãe e caiu para trás, em choque. Sentou-se no piso e abraçou os joelhos, enquanto lágrimas escorriam por sua face. O rosto ainda jovem de Magnólia estava totalmente desfigurado. Água fervente havia sido derramado sobre ele.

— Léo? — gritou a irmã entre dentes, horrorizada. O irmão que correra à sala pegar o telefone para pedir socorro, voltou e também viu o acontecido e foi sentar-se ao lado da irmã com lágrimas nos olhos. A surpresa era tanto que ele mal conseguia sintetizar o que acontecia. Parecia que, de repente, suas vidas tornaram-se um pesadelo. Um lindo dia lá fora e dentro mergulharam num breu de dor e revolta.

— Como ela conseguiu derramar água fervendo no próprio rosto, Léo? — Luciana não conseguia acreditar no que via.

Léo apenas balançou a cabeça desgostoso. Não conseguia sequer pensar em nada. Sentia uma dor no peito que dilacerava o coração. Uma dor tão intensa que não conseguia explicar em palavras.

Levantou-se e foi cobrir o rosto da mãe com o pano novamente. Parecia errado ficar olhando para seu rosto naquele estado. Um rosto sempre alegre, sorridente, expressivo. Até quando dava bronca seu semblante não conseguia demonstrar o sentimento interior.

— Engraçado — comentou Luciana olhando para as mãos da mãe. — Não tinha notado que ela deixou a unha crescer.

— Nem eu — concordou Léo observando as mãos de Magnólia. — Desde quando a mãe passou a usar esmalte?

— E vermelho ainda! — concordou Luciana achando tudo muito estranho. — Ela dizia que não gostava dessas coisas, que preferia as unhas naturais. Sempre falava que quando se é dona de casa não adiantava pintar as unhas, porque logo a água, o sabão e o uso diário e contínuo desgastavam o esmalte, que acabava se tornando todo manchado e desbotado, ainda pior do que a forma orgânica e natural. 

O tempo passou. As crianças não sabiam dizer se foram minutos ou horas, para só então aparecer uma ambulância do SAMU. Mas os médicos apenas constataram o óbvio. Magnólia estava morta e, por isso, chamaram a polícia para tomar as providências cabíveis. O cenário era estranho e os médicos não descartaram a possibilidade de um assassinato.

* * *

Dias depois, Léo e Luciana, tristes e inconformados, estavam em casa sem saber qual seria o rumo que suas vidas teria. Já sabiam que não poderiam ficar ali sozinhos. O conselho tutelar queria levá-los para um abrigo e foi difícil convencê-los a deixá-los ali por mais alguns dias. Só permitiram porque uma vizinha da casa ao lado se comprometeu a ficar de olho neles até que a situação fosse resolvida. A casa era alugada e não conheciam nenhum parente. O pai morrera três anos antes, vítima de um câncer no estômago que o torturou e consumiu até à morte.

— O que faremos agora, Léo? — inquiriu Luciana numa tarde de profunda depressão.

— Não sei — disse o menino pensativo. — Estive lembrando que mamãe falou umas duas ou três vezes de uma tia que mora lá “pras” bandas de Santos, SP. Acho que teremos que ir morar com ela por uns tempos.

— Tia Raimunda — concordou Luciana. — Mamãe não gostava dela —, lembrou. — Evitava de falar dela. Parece que é chata e dura de aguentar.

— Mas é a nossa única opção.

— Podemos ficar aqui — sugeriu a menina.

— Como vamos pagar o aluguel, comprar comida e tudo o mais?

— Trabalhando, oras. — Luciana achava que não era assim tão difícil.

— O pessoal do juizado não vai deixar. E o aluguel é muito caro para a gente conseguir pagar sozinhos.

* * *

Algumas semanas se passaram até que um funcionário do juizado de menores, chamado Mauro, aparecesse com notícias da tia avó.

— Localizamos dona Raimunda. A tia de vocês está esperando lá em Mongaguá, SP. Arrumem suas coisas que já comprei a passagem de ônibus para essa noite.

— Vamos morar com ela? — pediu Luciana pouco contente.

— Isso mesmo — concordou o funcionário. — Vocês têm uma longa viagem marcada. Isso lhes fará bem. É bom mudar de cenário de vez em quando. Vocês já conhecem o mar?

Moraram boa parte da vida naquela cidadezinha do interior do Paraná e a ideia de mudar para uma cidade grande do litoral até que era bem-vinda. O que não gostavam era de ir sem a mãe. Mas era algo que dali por diante teriam que se acostumar. Tudo o que teriam de dona Magnólia eram lembranças.

Ficaram tristonhos por um longo tempo, até que resolveram arrumar suas coisas para a viagem. Enquanto decidiam o que era essencial para levar, Léo encontrou em suas coisas uma revista comemorativa dos cem anos do Santos Futebol Clube, time que era torcedor fanático. Sempre sonhou um dia conhecer o grande Pelé, o maior jogador de todos os tempos e ídolo de seu time.

— Quem sabe, Lu —, disse ele com um sorriso enquanto folheava a revista já surrada pelo excesso de uso. — não conheçamos Pelé lá em Santos.

— Vá sonhando que faz bem — riu Luciana tentando se animar também. A vida tomava um rumo totalmente inesperado e eles, como se estivessem numa correnteza de um rio, em um barco sem remo, teriam que se deixar levar.

— Ora, até meu sobrenome é igual ao dele: Nascimento. Leonardo Nascimento — proclamou o menino com os olhos inundados pela fantasia. — Quase sou parente dele. Faltou pouco, você não acha?

Luciana riu da brincadeira do irmão.

— No nome até que parece, mas no campo…

Léo fechou a revista e a cara. Era um ponto sensível tocar no assunto. Por muito tempo sonhou em ser jogador de futebol, mas era um perna de pau assumido e isso não mudaria.

“Trate de estudar meu filho, se quiser ser alguém na vida”, aconselhava sabiamente a mãe que ganhava o sustento lavando roupa para fora. Duas vezes por semana ela recebia a visita de um funcionário do hotel que ficava na entrada da cidade, próximo à rodovia, que lhe trazia uma enorme quantidade de roupas para lavar e ganhar o sustento.

Nisso a mãe tinha razão, ao menos no estudo ele era bom e algum dia seria um engenheiro mecânico de peso. Esse era seu objetivo desde os dez anos, quando finalmente entendeu que de futebol era melhor ser apenas torcedor.

* * *

      No final da tarde daquele dia, Mauro retornou com seu carro caracterizado para levar os adolescentes para a rodoviária. Foi com tristeza e dor que Léo e Luciana embarcaram no carro com uma mochila e uma mala cada um. Era o exato instante em que suas vidas viravam um capítulo e recomeçavam um novo.

A rua fora tomada por vizinhos e curiosos que acompanharam os dois e, agora, vinham fazer as despedidas e desejar boa sorte a eles. Tão jovens e já passavam por algo tão terrível como perder a mãe de modo tão trágico.

Lentamente o carro foi abrindo caminho por entre as pessoas e tomando seu rumo.

Ainda olhando para trás por sobre o ombro, Luciana começou a chorar em silêncio. A maioria daquelas pessoas que abanavam a mão num último adeus a conheciam desde bebê. Tinha vontade de um dia se mudar daquela casa velha e alugada para algo melhor, talvez numa cidade maior, perto de uma faculdade, mas não esperava se mudar naquela circunstância sombria e triste.

Leonardo também estava calado, mas o que apertava seu coração era outra coisa. Algo que ouvira de um menino da vizinhança horas antes, quando saíra fazer uma caminhada com a irmã pela cidade uma última vez.

O garoto morava umas duas quadras mais para baixo e naquele dia “gaseara” aula, coisa que fazia com frequência para ir pescar num rio não muito longe do bairro. O Lebrão, como era apelidado por sua velocidade incomum, contara a Léo que ao passar por sua casa no meio da manhã fatídica, vira um belo carrão preto parar em frente à sua casa e um velho entrar nela. “Quem era aquele homem rico, Léo?” Perguntara o lebre. “Tem parente rico e nunca contou para ninguém?”

Luciana que caminhava mais à frente não ouvira o menino, mas aquilo foi o suficiente para colocar “minhocas” na cabeça dele.

Quem seria esse sujeito?

E o que veio fazer em sua casa bem no dia em que sua mãe morreu?

Até onde sabia o único parente vivo que tinha era a tia avó Raimunda e ela nunca viera visitá-los.

A polícia abrira um inquérito para averiguar as circunstâncias da morte de Magnólia, mas ninguém lhe disse nada a respeito e, mesmo assim, sabia que meses se passariam até que se tivesse uma conclusão. Seja como fosse, Léo achava tudo muito estranho. E a mãe nunca usara esmalte até onde ele se lembrava. Por que então achou de usá-lo justamente naquele dia?

Alguns minutos depois o carro chegou ao trevo da cidade que dava acesso à rodovia BR 277 e eles passaram devagar pelo pórtico,onde estava escrito em letras grandes e formais:

Santa Tereza do Oeste

Então ganharam a pista de rolamento em direção a Cascavel, de onde pegariam o ônibus em poucas horas, direto para Santos.

— O motorista do ônibus será o responsável por vocês durante a viagem, OK? — disse Mauro olhando para os dois irmãos tristonhos no banco de trás. — Qualquer problema falem com ele.

Como não houve resposta, ele ergueu mais a voz e perguntou:

— Vocês entenderam?

— Sim — respondeu Léo e Luciana ao mesmo tempo. Encontravam-se num daqueles momentos em que falar parecia algo dolorido e desnecessário. E assim Mauro ligou o rádio do carro e foram em silêncio, apenas ouvindo o batucar das músicas transmitidas por uma das inúmeras rádios locais.  

Na rodoviária tiveram que esperar ainda por mais de uma hora pelo embarque e Mauro, solidário com a sorte dos meninos, pagou um lanche caprichado em uma lanchonete da rodoviária.

Assim, ao escurecer, os dois se despediram do agente do juizado de menores e finalmente embarcaram num ônibus espaçoso e partiram para sua nova vida.

— O que será de nós, Léo? — perguntou Luciana olhando para os pedestres através do vitrô da janela. A maioria daquelas pessoas estavam voltando para casa, depois de um exaustivo dia de trabalho. E eles? Nem casa tinha naquele momento. Também não tinham pai, não tinham mãe, não tinham ninguém. Só uma tia velha, que se quer conheciam. Nem ao menos uma foto para saber dos traços fisionômicos da tia avó eles possuíam.

— Melhor não ficar pensando nisso — sugeriu Léo sabiamente. — Amanhã conheceremos nosso destino e saberemos como será. Enquanto isso, tentemos aproveitar a viagem, mana. Quem sabe o destino não nos reserva boas coisas? 

Luciana ficou quieta. Mas achava que depois de tudo o que acontecera, não conseguiria esperar nada de bom de sua vida. Porém, como nada podia fazer, ia torcer para que Léo estivesse certo.

Com o passar das horas e o balançar suave e constante do ônibus, os dois adolescentes dormiram encostados, desajeitadamente, um no outro. Mas não foi um sono tranquilo.

Léo sonhou com sua mãe sorridente, num dia de domingo ensolarado, preparando um belo almoço para o marido e os filhos. A mãe ligara o radinho de som oco, mas sem interferência, numa rádio popular. Dançavam e cantavam no ritmo das músicas que ouvintes ligavam e pediam ao locutor falastrão e de voz mansa. Magnólia estava feliz como ele nunca vira.

De repente, no momento em que a mãe servia um aperitivo de linguicinha assada a todos na sala, o menino chamado Lebrão entrou na sala dizendo:

“Você tem parente rico e não contou a ninguém?”

Nisso, Léo acordou com a boca seca e amarga. Um barulho parecido com uma trilhadeira vinha do outro lado do corredor.  

— Nossa como você dorme, Léo — disse Luciana baixinho para não acordar os “vizinhos” de viagem.

— E você não conseguiu?

— Até dormi um pouco, até essa cidadã — apontou para o corredor — começar a roncar como uma porca. Como se não bastasse esse ônibus ficar balançando e virando de um lado para o outro como um barco numa tempestade. Luciana nunca esteve no mar, mas tinha certeza que o movimento era o mesmo.

O tempo passava devagar e a noite parecia interminável, até que o ônibus parou em um ponto da estrada.

— Muito bem, pessoal — disse o motorista abrindo a porta da cabine e acendendo a luz geral do ônibus. — Quem quiser esticar as pernas ou tomar um café, teremos quinze minutos de parada.

Alguns resmungaram e não se mexeram, outros nem sequer perceberam que o veículo parara, enquanto alguns se levantaram de suas poltronas e saíram para o ar fresco da madrugada.

Luciana e Léo seguiram os poucos passageiros que resolveram sair do ônibus e foram, em primeiro lugar, ao banheiro. O ônibus tinha um banheiro nos fundos, mas do modo como balanceava, eles preferiam nem chegar perto do cubículo. Parecia impróprio ir ao banheiro “tirar água do joelho” com aquele chacoalhar constante e ininterrupto.

Depois compraram uma coca pequena, que dividiram em dois copos descartáveis. Então saíram do estabelecimento, para aguardar o resto dos passageiros do lado de fora. O posto de combustível e lanchonete parecia ficar no meio do nada. Olhando ao redor, os adolescentes não enxergavam mais que uns cem metros com a iluminação do posto de parada. Além era escuridão total. Só na rodovia, vez ou outra, passavam carros e caminhões indo ou vindo.

Luciana se afastou um pouco mais do ônibus e ficou olhando para as estrelas. Nisso uma delas pareceu se desprender e caiu.

“Uma estrela cadente” pensou fazendo um pedido silencioso. Não pediu nada para si nem para o irmão. Pediu um bom lugar para a mãe onde quer que ela estivesse.

— Que saudade, minha mãe. — resmungou baixinho

— Vai partir — gritou o motorista de volta e todos trataram de embarcar no ônibus. Léo voltou correndo à lanchonete enquanto Luciana admirava o céu estrelado e comprou um pacote de cheetos para comerem na viagem.

O ônibus voltou ao seu sacolejo e todos voltaram ao seu silêncio.

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram

Posts Recentes:

Poderia ter sido antes

  Uma amizade nascida tão cedo que, Malu e Manu, podiam ser gêmeas, se não tivessem sido geradas em barrigas diferentes.   Com um tom

Brethe: Eu vejo você

  Até quando uma pessoa pode aguentar a pressão, viver algo que não lhe agrada, e se manter mentalmente saldável?   Tristan Evans está no

AMIGA INSANA

  Pode uma pessoa ser a melhor amiga e uma inimiga ao mesmo tempo?   Quando conheceu Anne na faculdade, Cecilia sentiu uma afinidade já

FILAMENTOS

Um futuro onde homens e androides convivem com grandes corporações tecnológicas que usam de seu poder para subjugar os mais fracos em trabalhos quase escravos.

O homem Bezerro

Quando o Homem Bezerro chega em casa, entrando pela janela, como manda o manual do super-herói experiente, e começa a berrar, sua mãe aquela vaca,