Dia desses viajei para São Paulo de avião.
Enquanto esperava na sala de embarque fiquei olhando pelo janelão do aeroporto, estacionado lá embaixo, o monstro que me faria voar pela primeira vez em meus 54 anos. Olhando assim, friamente, parece impossível que aquele objeto imenso com umas cem toneladas e capacidade de levar em seu interior 230 passageiros pudesse levantar voo e singrar o céu azul outonal como se fosse um simples pássaro.
Fiquei pensando que a apenas cerca de 120 anos, Santos Dumont penava para colocar suas invenções no ar e se manter nele por poucos segundos. E que teve muitas fraturas pelo corpo devido a inúmeras quedas. Que voltou muitas vezes a prancha para rever seus cálculos em sua teimosia de inventar um meio de voar.
Quando criança na zona rural de Jangada Taborda onde morava, costumávamos, eu e meus irmãos, ficar vendo os “ jatos” cruzarem o céu deixando um rastro que parecia uma estrada no céu indo ou vindo não se sabia de onde ou para onde. Era algo que nos encantava imensamente na pobreza em que vivíamos. Nessa época toda a tecnologia que tínhamos em casa era um velho rádio a pilha que era usado somente em alguns momentos do dia. Precisava de seis pilhas grandes para funcionar e era um item caro e de luxo para nossas finanças reduzidas.
O mundo gira e o tempo passa, e passa depressa. Muitas daquelas pessoas que convivi na infância já partiram desse mundo, incluindo meus pais e alguns irmãos.
Chegou a hora do embarque e caminhei até a fila rumo a novas sensações deixando de lado as velhas lembranças de um tempo que jamais esquecerei.