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A GANG DO MAL

Era para ser um amanhecer de domingo tranquilo e ensolarado. O sol, na linha do horizonte, lançava seus raios sobre a cidade com leveza, iluminando os cantos mais obscuros.

A tranquilidade anunciada naquela manhã foi quebrada com a chegada deles. Mais de cinquenta motoqueiros avançavam pela Avenida Brasil com um troar único e ensurdecedor.

De onde vinham e para aonde iam era uma incógnita para os moradores das cidades próximas que tiveram o desprazer de receber aquela visita indesejável.

Simplesmente apareciam, como fantasmas, faziam seus estragos e sumiam, tragados por algum buraco atemporal.

Pelas ruas que passavam, destruíam tudo, como um bando de gafanhotos em uma lavoura. Explodiam carros estacionados, quebravam placas de trânsito e semáforos, matavam pessoas desavisadas que tivessem a má sorte de cruzar com eles.

Entre risos e gargalhadas, a gangue avançava lentamente pela Avenida ocupando todas as pistas. Ninguém era louco de tentar barrá-los e eles se regozijavam. Um ou outro carro que os percebesse tratava de escapar enquanto era possível.

O chefe deles era um homenzarrão de mais de dois metros de altura e cento e vinte quilos de puro músculo. Com o corpo encoberto de tatuagem de criaturas malignas, uma longa e espessa barba e uma argola de metal no nariz e outra na orelha esquerda, comandava a invasão com atitude de quem tinha força e poder, a qual ninguém tinha coragem de contestar.

Mantinha um riso maroto nos lábios enquanto metralhava um carro estacionado com uma automática. “Ele era o cara” Ninguém podia com ele e jamais perdera uma luta corpo a corpo. Era um rei e merecia todos os aplausos. 

A cerca de cem metros à frente de uma avenida vazia, ele viu um homem parado no meio da pista a observá-lo, numa atitude de coragem.

O chefão soltou uma gargalhada apontando para o homem que usava um traje verde ardósia com detalhes em branco. Uma máscara encobria seu rosto.

Quando faltavam trinta metros para chegarem ao homem, o motoqueiro ergueu a mão, fez sinal para seus comandados e todos pararam. Curiosos, perguntavam-se quem era o imbecil que ousava barrar a passagem deles.

— Ei, otário — gritou o chefão, — é coragem mesmo ou “tá” tentando suicídio?

A gargalhada foi geral. Há tempos que ninguém tentava enfrentá-los e por isso esperavam por um grande espetáculo por parte do chefe. Ele jamais perdeu uma oportunidade de demonstrar força e humilhar um semelhante, era algo que lhe dava imenso prazer.

— Pegue seus cãozinhos de estimação e desapareça de minha cidade, valentão — disse o mascarado com tranquilidade. O fato de ter mais de cinquenta oponentes, armados e perigosos a sua frente, não parecia lhe preocupar.

O chefão deu nova gargalhada e foi acompanhado pelos seus.

— Sabe que gosto de me exercitar — disse o barbudo abaixando o pé de descanso da moto e descendo dela. — Além do mais, meus seguidores gostam de um bom espetáculo.

Com passos lentos, o barbudo caminhou até o mascarado com um taco de baisbal reluzente nas mãos.

— Diga-me, “corajoso”, — disse o grandão parando a dois metros e fazendo pose com o taco. — Como devo chamá-lo quando estiver na lona e meu pé apoiado sobre sua cabeça?

Foi a vez do mascarado gargalhar, o que deixou o barbudo encafifado. Não estava acostumado a não ser levado a sério.

— Pode me chamar de O Homem Anônimo quando estiver com os ossos quebrados. Talvez eu seja bonzinho e chame os paramédicos.

Como resposta, o barbudo, irado, avançou e atacou. O Homem Anônimo se esquivou com habilidade e, num passo à frente, desferiu um gancho de esquerda no nariz do grandão. O cara sentiu o golpe, titubeou meio zonzo, quis contra-atacar, mas recebeu novo golpe, agora com o pé direito no queixo. Ele foi ao chão, desmaiado.

Houve um “oohhhh” por parte dos demais, que simplesmente não acreditavam no que estavam vendo. O chefe deles fora vencido por alguém e sem nem acertar sequer um golpe.

Uma dúzia de motoqueiros largou suas motos e cercou o mascarado, que não ficou esperando.

A luta foi ferrenha e durou quase uma hora. Tiros de arma de fogo, golpes de espadas, luta corpo a corpo e muitos raios azulados tomaram lugar numa luta insana e lamentável, desumana.

No final somente um homem ficou de pé no meio de um amontoado de motos caídas e muitos corpos gemendo no chão. Muitos ossos quebrados, mas nenhuma morte foi constatada.

Exausto e cabisbaixo, O Homem Anônimo caminhou até uma rua lateral e desapareceu por ela enquanto as sirenes da polícia se aproximavam velozmente.

Mesmo sabendo que a violência é um atraso, às vezes, somente com violência é possível conter a própria violência. Enquanto a ignorância existir, enquanto o mais forte achar que é melhor que os outros, o mundo não conhecerá a paz.

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